quinta-feira, 12 de junho de 2008

Peixeiradas

A paralisação dos camionistas que terminou hoje de madrugada foi ontem posta em causa pelos pescadores que, mercê da dificuldade em escoar o pescado, vinham sendo obrigados a devolver o produto à proveniência, já que os distribuidores, cujos camiões não circulavam, não compravam o peixe aos intermediários e estes, que estão na lota é para ganhar alguns cêntimos por quilo de peixe, também não o adquiriam. Tal situação conduziu, na manhã de ontem, a violentos confrontos, entre pescadores e um piquete de camionistas na estrada de acesso à lota de Matosinhos, conforme foi testemunhado pelo Chocrático. Os pescadores mostravam-se agastados com a falta de oportunidade da paralisação dos camionistas. “Se queriam parar tinham-no feito quando nós também estávamos parados” queixou-se um pescador ao Chocrático, “Um gajo agora quer comer uma pianola de entrecosto ou uma entremeada e não há nada nos talhos e nos supermercados, e tem que se sujeitar a comer o peixe que agora ninguém compra na lota”. “Há 4 dias que só como sardinhas”, manifestou-se um outro pescador, “e tenho ali um vizinho que há uma semana que só come jaquinzinhos”. Por seu lado os camionistas queixavam-se “na semana passada queríamos um carapau ou um besugo e tínhamos de comer bife do lombo, pois agora fiquem aí com o peixe todo”.
Não tendo surtido qualquer efeito o diálogo entre uns e outros, rapidamente se passou das palavras aos actos e, destes, chegou-se a vias de facto com as hostilidades a terem início com um ataque cerrado dos pescadores aos camionistas que, por sua vez, se socorreram da carga que se encontravam nos camiões que faziam parte do bloqueio. Assim, viram-se pelo ar sardinhas, maçãs, robalos, camisolas Lacoste contrafeitas, pargos, donuts e até pensos higiénicos, os quais foram os únicos destroços de guerra que ninguém recolheu.Em resultado dos confrontos, ainda ontem tiveram de ser assistidos no hospital de Matosinhos dois pescadores com indigestão de donuts e um camionista que fez um corte no dedo mindinho quando amanhava um pargo com um quilo e duzentos.

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